quarta-feira, 31 de março de 2010

pregos, cruzes e um saco de moedas... II (completo)

Pregos, cruzes e um saco de moedas

DANCE OF DAYS

O pulso afasta os pontos
e deixa respirar cicatrizes sempre abertas
Mantidas abaixo do desprezo ao acaso
e desculpas semi aceitas...
de quando o sol não nasceu pra mim.
e eu estive deixando a chuva escorrer
pelas feridas, pra jamais esquecer
dos dias em que fomos um,
e teus olhos diziam:
"dorme, que por ti eu zelo"...

Me diz o que fazer
agora que ardes qual escárnio
de sonhos sem crença
e não mais olhas por mim...

Eu não penso em dizer adeus
mas não consigo ficar aqui
correndo entre gigantes mortos
em castelos no céu.

Os moinhos não mais dançam teus beijos
e eu me sinto tão alheio a teus erros...

Me diz onde estava você
quando olhei pra trás e as nuvens de pragas
devoravam minha sombra?
Me diz como podes esperar
refugo em meu lar se os cortes em meu rosto
ainda sangram com teu gosto?

Agora a certeza se torna um erro (Fingir)

Pior pra você se quando me vê
Eu não estou tão só assim.
E quando se engana mesmo da certeza
De que o erro foi só meu...
Se deu por perder a razão
E fiz questão de não reagir.
Se alguém agora procurar por você
Talvez não ache mais em mim......

(refrão 2x)
Fingir , mentir
Quando não se pode mais evitar
Correr e fugir daqui para qualquer lugar

Pior foi ser alguém que nem eu mesmo sei fingir...
E os egoistas, a lágrima que caiu de mim
Agora vão sorrir...


Essa banda me traz muito. Apesar de coisas dolorosas que vivi ouvindo-a. Afinal, como ela já diz: "Eu tive um amor, mas foi a dor que me ensinou a ser quem sou..." Ah, ah...

Próximas músicas virão. Não mais tantos textos. Novas do Dance of Days postarei, e de CMTN também. Talvez coisas aleatórias também, que serão profundas.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A Esfinge Sem Segredo

A um tempo minha vida passava a ser igual. Uma casa inteiramente grande, um charuto, espumas na banheira e escuro de um quarto. Nada mais uma moça como eu poderia querer. Uma casa somente para mim. Ela era grande demais, e eu pequena demais, talvez. Talvez é uma palavra que cabe muito no meu dicionário. É, talvez seja. As pessoas perguntavam para mim se eu tinha um nome; dependendo para quem, eu tinha. Qual poderia ser meu nome agora? Suzana. Não, é um nome muito ridículo. Talita. Muito meigo. Esandra. Ultrapassado. Eu acho que não tenho um nome definido; depende do momento. Moro só, faz 5 anos, nessa casa enorme. Ela é muito enorme, pode acreditar. O que eu faria com um cachorro aqui? Seria minha única companhia, fora o Mordomo. Chamo ele assim. Aliás, ele é um mordomo. Esse é o nome dele, para mim. Sempre gostei de casas grandes. Sofás que cobrissem a parede inteira, chaminé para ocupar o lugar do frio, camas e lençóis para amaciar a pele, ar condicionado, luz de velas, cozinhas. Etc. De nada adiantava algo desse tamanho, se não teria alguém para ocupá-lo. Mordomo começou a morar aqui um pouco antes da minha Alucinação. Foi uma companhia indiferente pra mim. Ainda acho que ele é mudo de vez em quando. Se ele o é, eu sou uma sofredora nata. E nada mais poderia dizer sobre isso. Sofás, camas, paredes, banheiras, travesseiros, toalhas... Para quem? Para mim? Com quem ei de compartilhar todas essas materialidades? Pois sei de uma coisa: de físico tudo tenho, mas de abstracto nada possuo. Como assim? Peculiaridades. Tenho vários objetos materiais, mas não possuo uma pessoa. Não possuo uma companhia. Alguém para sentir algo, ou que seja algo perto disso. Não procuro garotos de programa, eles me dão nojo. Mas na hora, é bom. Porém, não adianta. O meu desejo é permanentemente fervoroso. Nem um Hades apagaria. Moro só. Sou só. Me deixaram. Me chutaram. Me inibem. Sou invisível. Então comecei a ver todas as coisas assim também: nada existe. Fora a minha casa imensa e inútil, e o Mordomo que faz todos os deveres da casa. Mas não faz os meus. Acho que ninguém pode fazê-lo. Ninguém. Ai de mim! Ai de mim, mera humana, mera mulher ter alguém para abraçar todo dia. E amar. Ai de mim, Zeus! Ai de mim, ó deuses! Afinal, não sou uma pessoa religiosa. Nesse estágio acho que ninguém o É. Mas gosto de citar esses nomes, vai que um dia um deles me escutam? E não vêm aqui na Terra ter um filho comigo, como fez um deles? Ou vários, não sei... Me deixaram de lado, e agora estou aqui. Vivendo de futilidade. Minha casa é grande e não tem ninguém para ocupar o seu espaço. Não tem ninguém para tocar essas paredes. E para tocar a mim. As horas passam, e eu fico deitada em minha cama. Esperando alguma coisa acontecer, talvez. Sei que o sol não vai nascer azul. Nem as árvores nascerem com folhas vermelhas. Ei! Ei! Pera aí. As Folhas são vermelhas sim! Existem folhas vermelhas! Quer dizer que alguém pode me tirar daqui? Alguém pode? Por favor, alguém me tire desse buraco! Eu imploro! Quero ver as folhas vermelhas lá fora! Quero ver o sol azul! Eu sei que ele existe, pois quando eu vivia bem, eu olhava muito pra ele, e eu o via azul! Existe então uma possibilidade de alguém vir me buscar... Mas quem será este, "Escalador Encantado de Escadas¹" de Adalgisa? Quem irá me salvar? Tenho tudo de material, mas nada dentro de mim. Nada de sentimento por alguém. Por que dependo tanto das pessoas lá fora? Porque ninguém bate a campainha aqui e se autoconvida para entrar na minha vida? Porque a minha vida é tão sem graça? ...
- Madame, posso entrar?
- O que foi agora?
- Eu queria entrar aí com a Sra.
O que será que o Mordomo quer agora? Estou aqui, em meus delírios, em meus sofrimentos, e ele veio fazer o quê? Veio me trazer a felicidade, talvez? Coitado. Ele é um mero mordomo.
- Abra a porta, então.
[Mordomo abre a porta e entra no quarto da Sra. M.O.]
Quieto, ele se aproximou, e sentou do lado da cama que eu estava deitada. Começou a me olhar profundamente. Mas eu não via nada naqueles olhos. Via uma vida rotineira, uma vida em que tudo é igual, e que não há nada de surpreendente. Nesse ponto de vista, tínhamos algo em comum. De repente, ele acena para mim. Começa a acenar e a sorrir; ele trabalha aqui há anos, há uns 8 ou 10 anos em casa. E nunca conversei com ele. E ele nunca entrou no meu quarto enquanto eu estava. Talvez ele teria que dizer algo: acho que alguma notícia na TV que o afetasse muito, já que ele não tinha com quem conversar. Ou então dizer que ouviu alguma coisa de noite, ou que sumiu alguma coisa aqui de casa, ou que ele queria usar a banheira, ou que queria dizer que a vizinha se suicidou...
Ele nada diz. Apenas sorri e acena como se tivesse me vendo pela primeira vez. O que era aquilo? O que ele queria dizer? De repente ele acena para a janela do quarto: aponta para a luz forte que está vindo de fora. O que era? Por que luz? Ela está aí todo dia, e toda noite. O que teria demais nisso? Eu não compreendia Orlando. Ele apenas indicava aquela luz como se fosse algo sobrenatural.
- Está vendo aquela luz, minha Sra. Madalena Ofalon?
- Não há como não ver, Mordomo, já que essa maldita luz me deixa quase cega.
- Não a trate assim, ela veio te ver.
- Me ver? Ela vem todo dia então. Vem oscilar meus olhos para outro lado; ela me perturba.
- Perturba porque te quer. Acha mesmo que ela vem todos os dias à toa? Veio te buscar. Veio te proporcionar o que há minutos você pedia e implorava.
- Do que está falando? Uma luz vir me buscar? Ela nem se quer é um humano para fazer isto;ela é apenas uma energia, um raio que atingiu minha janela graças ao Sol quentíssimo desta tarde.
-Você não está fazendo juz ao teu nome.
-Luz vir buscar, juz ao meu nome... Tenho um mero nome, que não vale nada pra mim. Essa luz não é nada de comovente na minha vida. Saia, Mordomo, e me deixe aqui meditando o mal que sofri.
- Sim, ela veio te buscar. E vai te buscar... e te prender para que você nunca esqueça... agora.
Orlando me beijou. Mas que atrevido! Nenhum homem o faria a 5 anos atrás, depois que Bóris havia me deixado. Parece que aquela luz era um tipo de eclipse; onde Orlando espera o momento certo para acontecer, e usufruir. Por tantos anos, nesses mais ou menos 10 anos, ele nunca atrevera em chegar perto de mim, nem de entrar em meu quarto, nem nada de nada. Porque o faria agora? Será que gostava de mim antes de Bóris ter terminado comigo? Será que ele ficou quieto esse tempo todo? Eu nem ligaria, TALVEZ, se eu soubesse que ele me amava. Porque iria de me beijar agora, depois de tanto esse tempo? Ele queria me deixar feliz? Ou queria que eu calasse minha boca, porque não aguentava mais eu gritar e chorar por detrás da porta de meu quarto, que eu trancava sempre em meus lamentos? O que ele queria de mim? Eu não sei. Mas tinha sido uma noite maravilhosa. Orlando, Orlando, o Mordomo... ele me amava. Parecia, pelo menos. Do jeito que me beijava, me tocava. E eu? Porque não rejeitei tal ato? Ora... eu deveria fazer juz ao meu nome. Como ele fizera do seu.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Meu oráculo de Delfos

E quem disse que o Oráculo de Delfos não existe? Não sei quem foi, mas se existiu alguém, que se refute essa idéia. Afinal, de certa forma eu acredito. Bom, quem acredita nisso, de certo também que acredita em pré-destinação. Sempre acreditei nisso, apesar de nunca ter uma prova concreta. Mas nada melhor do que provar pra si mesmo: provei por meio de sonhos simbólicos. Posso ser uma louca talvez, em acreditar nisso. Gosto também da Astrologia, não a nego.

O sonho, em si, que eu tive.

Não lembro muito bem, mas foi o seguinte: fiquei viajando durante um bom tempo dentro de mim, durante o sonho. Mas vou contar.
Eu estava dentro de uma casa, sentada numa mesa redonda. Tinha alguém comigo, era uma menina. Ou pelo menos eu achava que tinha. Abri um livro, e fui ler um conto que eu queria ler fazia tempo. Não lembro que conto era e se ao menos existia, mas era um conto de alguém do Brasil. Talvez eu tenha sonhado isso por ter iniciado a ler um livro de contos. O nome do conto era um nome esquisito, com formações de palavras num título que não faziam sentido. Ex: Mão vidro. O título se remetia ao tempo, ou melhor, ao relógio. Relógio era uma palavra que estava contida no título.
Comecei a ler então, e a menina que estava do meu lado começou a me confundir. Eu não sabia mais se ela era alguém, ou se eu era ela. Acho que eu era ela: sua face e seu cabelo curto lembravam de mim, da Karol.
Não vou contar com detalhes. O conto falava sobre eu mesma. Mas como assim? Falava da minha dificuldade em amar alguém que nem se quer gostava de mim. Amar alguém que não tinha olhos para mim. E qual era a moral? Esqueça-o. Tenho outras coisas pra viver.
Eu poderia ter escrito isso antes, mas não tive tempo. Aí eu lembraria melhor de contá-lo. Isso que eu disse até agora foi o básico do básico.
Formulei eu então que essa idéia de esquecer esse garoto era um destino meu. Eu, que nunca achei que fosse possível, tentei me desviar de tal idéia antes de ter tido o sonho. Estive conseguindo isso, muito aos poucos. Mas quando sonhei com isso, depois de poucos dias, entrei em queda para esse sentimento mórbido e inútil. Não quero troca de sentimentos, mas quero ter o que mereço. E o que mereço? Comparado aos meus atos rudes, nada. Mas e a minha dedicação a tal pessoa? Tudo.
Não adianta mais gostar de alguém assim. Me dediquei todos esses 5 - 6 meses a tal pessoa, que talvez nem sabia disso, ou, se sabia, só queria me manter a seus pés. Queria ter honra, tendo na verdade apenas um Reino, sabendo pisar no seu bobo da corte, em vez de adorá-lo como o diamante que lhe traz prazer ou felicidade em alguma merda. Esquecerei-o de uma vez, mas sei que nunca estará apagado dentro de mim meu sentimento por te valorizar tanto. Capricornianos são assim. Ou as pessoas são assim. Gostam de alguém, mas quando gostam mesmo, nunca esquecem a pessoa. Mesmo estando com outras. Mas não confundam: continuamos gostando de uma maneira superficial. Não signigfica que ainda gostar de tal pessoa quer dizer que morro de amores por ela, e que vou deixar meu parceiro atual. Quero dizer que ainda existe uma espécie de carinho e de cuidado por tal pessoa. E nada mais. Simplismente existe isso por ter sentido algo forte por ela algum dia.
Acho que não quero falar mais sobre isso.
Acabou, e isso foi o que eu quis dizer: meu sonho me mostrou que tenho capacidade sim de fazer algo que eu achei que nunca faria. Era uma idéia impregnada em minha mente, que quando comecei a acreditar que eu poderia esquecê-lo, comecei a pôr isso em prática.
Isso foi meu Oráculo de Delfos: esquecer alguém que não me quer. E não posso fujir de meu destino como fez Édipo. Tentou escapar de seu oráculo, mas na verdade estava previsto que mesmo se fujisse, ele aconteceria. Então fujir desse meu oráculo seria inútil.
Que venha Pítia.